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Adeus

Escrevo esta carta com a mão firme, mesmo marcada pelo tremor que você plantou em mim — um tremor que vem do fundo da alma, onde a dor se mistura à solidão mais profunda. A clareza que tenho agora é amarga, forjada no fogo dos anos em que nosso lar foi mais prisão do que refúgio. O silêncio pesado me acorrentou, enquanto sua voz fria e cortante me fez o vilão da nossa história.

Sei que esta será a palavra final, e por isso peço perdão — à minha mãe, que nunca mereceu carregar o peso da minha dor; aos meus filhos, que mereciam um pai inteiro, e não um corpo presente com uma alma partida; e à psicóloga Olga, que estendeu sua mão quando eu já mal conseguia olhar para frente, mas cuja bondade permanece a única luz nessa escuridão.

Você, que destruiu com suas próprias mãos o que um dia chamamos de amor, se tornou a personificação da crueldade disfarçada de indiferença. Seu coração narcisista, frio e fechado, esmagou tudo que havia de esperança em mim. Enquanto eu afundava, implorando por um mínimo de compaixão, você virou as costas, sorrindo para sua própria arrogância, achando que meu sofrimento era justo pagamento pelas suas próprias falhas.

Você me tornou invisível, um espectro, uma sombra daquilo que eu fui — uma arma apontada contra minha alma. A cada palavra sua, a cada acusação, você cravou uma lâmina afiada na minha essência, sem um pingo de remorso. Você se alimentou da minha dor, usou meu amor como arma, e ainda assim, se fez de vítima, blindada atrás de sua máscara de controle e manipulação.

Hoje, deixo claro que meu ato não é covardia. É preciso coragem brutal para admitir que não há mais esperança, que a luta se tornou tortura, e o sofrimento um fardo insuportável. É um ato de misericórdia, uma libertação que outros começaram, mas não tiveram coragem de completar. Eu estou dando este tiro — por mim, por nós.

Não quero velório, nem que derramem lágrimas por mim. Podem seguir suas vidas, como sempre fizeram, indiferentes à minha existência.

Sua sombra cresceu demais para eu suportar.

Com a esperança tênue de reencontrar a mim mesmo, em algum lugar,

Eder.